O Dia Começa na Cozinha
O despertar de um cão que boceja, festinhas na cabecita felpuda de orelhas pontiagudas e olhos cor de âmbar, nariz preto e indiscreto, dentes afiados de lobo sorridente; mais um bocejo, seguido de um pequeno latido. Bom dia! Depressa se dirige para a porta, tocando-a firmemente com o nariz, como quem diz: “Deixa-me sair.” Abre-se a porta, por onde sai lentamente, espreitando cautelosamente, espreguiçando-se demoradamente, esticando uma pata traseira de cada vez, bocejando novamente, mais um pequeno latido. Finalmente sai, ainda olhando para trás, provavelmente pensando: “Hum, está tão quentinho lá dentro…” mesmo assim saindo, apresando-se para por ordem no quintal, onde por todo ele, se vai serpenteando a vida que por ali passa.Abro as portas de par em par, arejando o espaço, deixando entrar a luz, que ao estender-se por toda a divisão, alegra o coração, desperta os sentidos.Observo, verificando a ordem das coisas, a mesa, sempre poeticamente adornada, taças com fruta, legumes, cores, vermelho, amarelo, verde, texturas, aromas, glicínias, é como se estivessem ali, pois o seu aroma invade o espaço, preenchendo-o de sofisticação e sensualidade, apelativo o suficiente, despertando os sentidos apelando-me para me envolver nos prazeres da gastronomia.Mas sem música, nada feito. O que se vai ouvir hoje na minha cozinha?
